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segunda-feira, 13 de abril de 2015

MAIS UMA NA VIDA DE UM ARQUITETO



Final de um domingo, após estar com meu filho no play-ground, estou relaxando no sofá, e dando uma olhada em meu Whatsapp, dou de cara com a mensagem de um cliente - "Preciso que VC esteja amanhã cedo na obra, pois aconteceu um problema muito serio e preciso falar muito sério com você. Boa noite. " - Isso já me deixou extremamente angustiado,  pois é uma das obras as quais mais tenho visitado, devido a este cliente ter comprado lajes de uma destas fábricas de "fundo de quintal" que não dimensionaram nada - sobrecargas, barras adicionais, não deram nenhuma informação técnica sequer - e assim, por experiência e lealdade ao cliente, cobri esta falta reforçando os trilhos, vistoriando por três dias tudo desde os escoramentos até os pontos de esgoto... Daí a pergunta - O que deu errado? As estruturas? Não!  Eu as dimensionei devidamente;  Recalque em algum ponto da fundação?  Definitivamente não, pois acompanhei cirurgicamente tudo até o vigamento...
Daí pensei que ele poderia ter mandado concretar a laje sem ter me avisado, já que ele estava cotando e de repente resolveu passar por cima da obrigatória e vital vistoria antes de concretar a laje.
Segunda-feira, 07:45 da manhã. Chego e já vejo o trecho da garagem todo arriado. Entro com o coração quase saindo pela boca e entendo tudo - Além de ter concretado sem me consultar antes, o cliente não retirou o automóvel velho que até semana passada estava entre as escoras e diferente do orientado, não tirou o veículo e não deixou o pedreiro colocar os pontaletes que completariam e dariam a segurança para que a laje concretada  seguramente secasse.  Segundo o pedreiro, minutos depois de ter sido concretado, o trecho frontal foi todo abaixo. Junto dele, dois funcionários da concreteira que felizmente só levaram um susto.
Nesta situação eu concluo que temos que ser extremamente rigorosos mais do que sou, com relação a situações que ainda que apontadas repetitivamente, devem ser atendidas imediatamente sem qualquer tolerância;  concluo que, alguns clientes e esse no caso, são Incapazes de aceitar que foram culpados por tal acidente, quando não atenderam nem tampouco por bom senso, retiraram algo estranho à obra, impedindo que o pedreiro cumprisse por completo seu trabalho; e vejo que além de leigos, o que não é um crime, alguns são prepotentes e pilantras a ponto de jogarem a culpa de sua cretinice no arquiteto e no pedreiro,  quando só resta ao próprio toda a (ir) responsabilidade quando assumiu os riscos no momento em que se negou a apenas empurrar uma merda de um carro velho para garantir a estabilidade e segurança de seu patrimônio, insistente e repetidamente orientado como é de obrigação minha. Além da responsabilidade do profissional, se não houver da parte do cliente a  humildade e respeito à inegável autoridade do arquiteto, ainda que passível de questionamentos e dúvidas, a obra rui. A obra atrasa. A obra não vai adiante.
Imagina quando o profissional não visita a obra, e isso é mais frequente do que se imagina.
Ah, agora o cliente entendeu e felizmente será possível repor as lajes no trecho e desta vez, sem a porcaria do carro, para se poder escorar na distância correta.
Graças a Deus nada de pior aconteceu.
Mas nada repõe uma noite de sono conturbado.  Nada nem ninguém.

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